Photos and words
Sei a espera. Conheço-a como a palma das minhas mãos. Está entranhada em mim como carne em sangue e chamas. Sou noite negra de véu estrelar. Anjo vingador crivado de setas. Sei a espera. Sinto a sua aspereza percorrer-me o corpo, ferindo-me e gozando do meu lamento. O dia nunca mais chega, a vida nunca mais começa. Fico aqui: no limbo do ser, na orla do desconhecido, esperando e desesperando, ouvindo o ardor de outros seres assumidamente felizes, naturalmente ingénuos. Não há felicidade que me alcance, não há querer que me falte. Amaldiçoada alma, sem luz nem brilho que procura algo, nem que seja o inferno dos tormentos, pois só assim poderá saber se vive, se o pulsar que sente em seu peito é de alguma forma real. Sentir lenta e desesperadamente, numa contradição dos sentidos, que revira as conceções do universo, que alimenta os limites num sussurro morno e quebrado de quem já não sabe o que fazer. Sei a espera. Espero. Porque não sei mais nada.
foto de Antonio Costa
texto de Susana Costa